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Comportamento das crianças nos dias atuais

As principais características apresentadas pelas crianças nascidas a partir de 2010, consideradas a mais recente geração, denominada Alpha.

As transformações na sociedade pós-moderna, principalmente a partir do século XX, geraram profundas mudanças nas relações humanas com as coisas e entre si. O advento da globalização, o desenvolvimento tecnológico, o emergir de novas ideologias, as exigências para adoção de um ritmo frenético e conectado, assim como as pressões oriundas da violência exacerbada afetaram os valores, posturas, princípios e paradigmas.​


“A aceleração do ritmo das mudanças, característica dos tempos modernos e em contraste com os séculos anteriores de interminável reiteração e letárgica mudança, permitiu que as pessoas observassem e tivessem a experiência pessoal de que “as coisas mudam”, que “já não são como costumavam ser”, no decorrer de uma única existência humana.” (BAUMAN, 2011, p.26)

As circunstâncias que nos rodeiam se alteram e nos alteram. O contexto histórico, político ou social onde os fatos ocorrem, repercutem nos significados subjetivos que as pessoas que vivem esses momentos atribuem para suas experiências, e influenciam suas crenças e atitudes. Deste modo, o mundo cada vez mais diversificado, complexo e virtual devido à cultura de inovações rápidas e constantes demandou modificações nas ideias e condutas adotadas e imprimiu novos modos de viver. Conforme delineia Lipovetsky:

[...] o universo dos objetos, das imagens e da informação, bem como os valores hedonistas, permissivos e psicológicos que estão ligados a ele, geraram simultaneamente uma nova forma de controle dos comportamentos, uma diversificação incomparável dos modos de vida, uma flutuação sistemática da esfera privada, das crenças e dos modos de agir [...] o pós-moderno é uma hipótese global designando a passagem lenta e complexa para um novo tipo de sociedade, de cultura e de indivíduo [...] (2005, p. 60)

As alterações nas formas de ser, pensar e agir consolidadas, também estão presentes nas crianças. Este cenário de amplas transformações no qual estão inseridas permeou, ao longo do tempo, sua maneira de ser e promoveu mudanças nos processos de desenvolvimento, aprendizagem, comunicação e outros. As características peculiares geradas a partir desse processo de interação sugerem a formação de uma nova identidade.

Em seus trabalhos, Mannheim aponta que a ocorrência de acontecimentos históricos que marquem o curso da existência de um grupo é potencializador do desencadeamento de uma nova geração. Os “espaços sociais de experiências conjuntivas de indivíduos da mesma idade-classe” (1982, p.92) configuram um importante elemento no conjunto de fatores que vão além de fatos históricos, sucessão cronológica e tempo na configuração de uma geração.

O ponto mais importante a ser notado é o seguinte: nem toda situação de geração – nem mesmo todo grupo etário – criam novos impulsos coletivos e princípios formativos originais próprios, e adequados à sua situação particular. Quando isso acontece, falaremos de uma realização das potencialidades inerentes a uma situação, e tudo indica que a frequência de tais realizações está estreitamente ligada ao ritmo de mudança social. Como resultado de uma aceleração no ritmo de transformação social e cultural, as atitudes básicas precisam se modificar tão rapidamente que a adaptação à modificação latente e contínua dos padrões tradicionais de experiência, pensamento e expressão deixa de ser possível, fazendo então com que várias fases de novas experiência sejam consolidadas em alguma outra situação, formando um novo impulso claramente distinto e um novo centro de configuração. Falaremos, em tais casos, da formação de um novo estilo de geração ou de uma nova enteléquia de geração (MANNHEIM, 1982, p. 92).

Pertencer a uma mesma faixa etária propicia a oportunidade de testemunhar os mesmos acontecimentos, passar por situações similares e ter um lugar comum. Mas, acima de tudo, assimilar sobre eles uma visão, sensação e interpretação muito próxima uns dos outros, estando, de certa forma, conectados, é o que configura ocupar uma mesma “posição geracional” (WELLER, 2010).

Por vivenciarem experiências semelhantes, serem afetadas por eventos comuns da mesma forma e compartilharem memórias e comportamentos, os nascidos a partir de 2010 são apontados por alguns pesquisadores, como McCrindle (2010) e Furia (2013), como representantes de uma geração distinta das antecedentes, denominada Alpha.

Essas crianças nascem em um mundo conectado em redes e digital, têm maior acesso ao conhecimento humano, maior instrução e uma educação mais ampla e precoce do que as gerações as precedem. Apesar da grande quantidade de informação e dados a que são submetidas, demandando uma necessidade de absorção e processamento como nunca antes, elas demonstram familiaridade com o volume de conhecimento acessível. Sua capacidade no universo virtual e habilidade tecnológica e digital chamam a atenção e impressionam. Elas manuseiam com facilidade aparelhos eletrônicos e apresentam destreza em aplicativos e redes sociais. Respondem com naturalidade à diversidade, pluralidade narrativa e cultural e, integradas ao campo das ideias, demonstram um pensamento associativo, sistêmico e em rede (FURIA, 2013).

Pais, cuidadores e educadores revelam, além de perplexidade e fascínio, dúvidas diante dessas características infantis que consideram inusitadas e singulares. Por não estarem habituados a elas, não sabem muito bem o que fazer, como agir e consideram que a missão de educar está mais complexa. Embora as divergências entre gerações não sejam um fenômeno novo, as questões e contingências, que não estavam presentes até então, tornam a sensação de disparidade bastante intensa. Bauman elucida o que considera diferenciar este momento:

Essa percepção trouxe como consequência o estabelecimento de uma associação (ou mesmo um laço causal) entre as mudanças na condição humana, o afastamento das velhas gerações e a chegada dos mais novos. Estabelecida essa implicação, tornou-se visível e até evidente que (pelo menos desde o início da modernidade e por toda sua duração) as classes de idade que chegavam ao mundo em diferentes etapas do processo de contínua transformação apresentavam uma tendência a diferir profundamente no modo de avaliar as condições de vida que compartilhavam. (2011, p. 23)

Pesquisas que exploram, desvendam e promovem o conhecimento do perfil da geração Alpha, esclarecendo o que, efetivamente, a distingue e diferencia das gerações anteriores, possibilitam a ampliação dos significados e interpretações construídos sobre essas crianças e suscitam a adoção de um novo olhar e novas posturas, promovendo a criação de recursos e estratégias para uma convivência mais tolerante e uma forma de educar mais descomplicada e instrumentalizada.

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